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terça-feira, 24 de maio de 2011

Mar a dentro, Mar a fora.

Mar a dentro ela ia, debatendo contras as ondas que insistiam em mandá-la para a praia. Desespera pra que canse-se a ponto que a necessidade e o instinto lutador dentro dela não a jogasse para acima das águas. Era como se toda a falta de confiança na humanidade que ela tinha tivesse se tornado ódio contra o próprio ar. Pobre ar, estava levando a culpa de todos, quando o único mal que ele fizera para ela foi brincar com seus cabelos delicados, e apalpar leve e friamente o seu rosto.

Quando ela se tornou tão ingênua a ponto de não perceber que o céu chorava por ela?

Mimada, você não merece sair ilesa, se é tão boba. Conseguiu encantar a vida, e mudar a ordem natural, mas nem isso te alegrou. De tão egocentrica, realmente pensou que o fim do mundo seria o fim da sua vida. Não é porque os céus choram agora, que eles não vão superar isso.

Parece que só agora o universo percebeu que ser tão bom com alguém não é o aquela pessoa realmente necessita. Mimar alguém lhe dando milhares dias de Sol nada mais fará do que lhe queimar os miolos.

Agora com os lábios tocados pelo lindo azul royal da hipotermia ela perceberá que isso não é o que ela realmente desejava fazer de sua vida. Tarde demais, nenhuma roleta russa vem com um botão de desligar ou cena anterior.

Pelo menos agora, em seus últimos segundos, ela perceberá que tudo aquilo que ela dizia odiar, na verdade foi a melhor vida dela. Cada partícula da criação do universo dentro dela não estava morrendo, mas apenas se transformando. Do universo, para o universo. Cada partícula de carbono do qual ela se dizia dona, nunca foi seu, pois ela mesma pertencia a outro.
A água salgada que entra em seus pulmões e os queimavam não estava querendo machuca-lá, mas apenas tomar o que era seu desde o principio de volta.

Agora seu corpo sem cor, sem vida descia tocava o ínicio da zona abissal. Ser bonita lá não faria diferença, nem seu vestido vitoriano seria admirado. Esse sim seria o esquecimento absoluto para ela.

Nem tudo é imortal, muito menos infinito. Seu tempo acabou, o jogo também. Afinal, qual seria a graça da roleta russa se não existir um final trágico para um, e sádico para outro?

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