Páginas

domingo, 9 de novembro de 2014

02:56

Sob o céu púrpura da cidade cinza, a insônia ataca com esmero contra o seu fim. Trazendo a tona todo o desespero de pequenos universos carnais, que vacilam ao leve toque mental da mortalidade. Anos se passaram desde o seu último encontro, e mesmo assim todo o medo do passado incerto toma seu lugar de volta pela mera lembrança de que o fim se aproxima.

Foram longas sete décadas de um filme da vida sem uma trilha sonora adequada. Cada cena de impacto, ou de procrastinação não recebeu a sua devida homenagem. Todos os louros foram entregues aos tolos escravos da utopia, que roubam o brilho nos olhos de uma heroína brava e depressiva.

Todo o seu universo interno modifica-se com pesar. Aqui está mais uma alma que necessita do amor do toque humano. Mais uma entre as diversas mulheres que choraram e sangraram em nome da vida digna. Mais uma que não recebeu prestígio ao seu coração de aço. E que nunca se entregou durante uma guerra santa que abalou o seu coração. Mais uma alma sonâmbula sob o céu púrpura da cidade de São Paulo.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Despertar.

A vida adulta começa quando você percebe tudo que está errado com o mundo. Mas não só percebe, e sim sente algo por isso. Seja raiva, dor, angustia.

Quando finalmente cada dor de crianças do outro lado do mundo te afetam, e te fazem julgar cada detalhe da sociedade afim de poder mudar o destino delas. Quando cada choro dói em sua alma, e lhe tira o sono ao acelerar a sua mente que procura incessantemente por um método de tudo que é ruim acabe.

Esse sim é o momento crucial.
É a hora da verdade, na qual se diferem bestas de seres humanos.
É quando a pergunta que não cala em sua mente é "Quantas mais Anne's Frank's vão precisar morrer para o mundo mudar? E mesmo após isso, uma hora toda essa crueldade terá fim?"

E tudo o que sobra é a dor alheia ressoando dentro do seu peito, que não sabe o que fazer para se acalmar enquanto o mundo de quem nunca viveu é destruído.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A dor.

Meu corpo dói.
Dói como o maior sofrimento do universo.
Dói.
Dói pela menor terminologia nervosa deste corpo.

E cada órgão clama pelo descanso ao se negar a funcionar.
Uma hora o fígado para. Outra hora o coração dói, e a cada batida o corpo treme como efeito colateral da suposta vida. Talvez seja o mesmo efeito dos pulmões que se cansam do trabalho que devia ser automático.

Apenas tem um pedaço de dor instalada em cada célula deste cadáver vivo.

Ainda sofro dos olhos, talvez essa seja a última vez que estes velhos globos oculares vejam o céu cinzento novamente. Ou até mesmo ao último passo de terra sob estes pés que fraquejaram sob o peso da vida considerada saudável. A um passo do pressuposto fim, mas diferente de Ismália não criarei asas ao alçar ao céu, apenas continuarei a ser um cadáver jogado nessa terra benzida de solidão.



sábado, 18 de janeiro de 2014

A dor do Universo.

E a carne novamente foi cortada. O novo rasgo profundo e largo, fazendo o seu caminho por entre as entranhas sem vida. O objeto destruiu o seu caminho à dentro, e explodiu em sua saída; porém mesmo assim nenhuma gota de sangue dali fora retirada.

Qual é o máximo de ferimentos que um corpo pode ter antes que toda a vida local chegue a inércia? Antes que tudo se torne insignificante e, cada ferimento deixe de ser ligado as terminações elétricas que produzem a dor. Qual será o limite da dor, do sofrimento, da inconstância do desapego?

E a cada novo 5 segundos do recomeço, sento e ali permaneço. O ciclo já não me interessa mais, nem mesmo os novos horizontes ali prometidos. A casa já está vazia, assim como a última garrafa de bebida alcoólica do mundo. O copo que uma vez já foi o centro do mundo agora não passa de apenas um objeto imundo.

Fecho os olhos e desmaio. Em segundos pulo fora da realidade, do mundo tocável. Mas mesmo fora deste as emoções ainda continuam, e a cada rua deste cérebro a dor se torna mais real do que a própria consciência universal. E assim a dúvida final ataca, apunhalando como se a sua existência depende-se disso:

- Qual será o limite mensurável do universo, quanta dor poderá ter existido no momento de sua criação para que tudo e todos que foram gerados dele sofressem tanto?